quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Jorge de Sousa Braga - O Poeta Nu (Poesia)


Não é novidade que eu não sei - nem tento - escrever ou falar sobre poesia. Guio-me pela opinião que tenho de que para gostarmos de um poema temos, de certa forma, de nos identificar com ele. Ou porque fala de fases da vida pelas quais já passámos, ou porque retrata emoções que julgamos já ter sentido - ou até porque as retrata tão bem que nos coloca na pele do sujeito poético -, ou porque tem um humor semelhante ao nosso, ou simplesmente porque transmite uma ideia genial que nos deixa embasbacados por alguém ter tido o discernimento de pensar nela.
Se eu estiver certa, esse é o motivo de eu não poder dizer que gosto sinceramente de Jorge de Sousa Braga. Não nos identificamos. É verdade que o achei genial por vezes e é também verdade que me ri com gosto, mas, em bem mais de metade da obra, não me relacionei com o que estava a ler. Fui confundida pelo non-sense e encontrei ciências exatas a inundar o tempo que guardo para a literatura. Para mais, mesmo sabendo que longe vão os tempos (ainda bem!) da obrigatoriedade dos formatos rígidos, não pude deixar de evitar pensar que estava a ler pensamentos e não poesia.
Deixo-vos os poemas que assinalei. Porquê estes? Nem que me pedissem muito saberia explicar.


«Era quase tão bela como a Vénus de Milo. Um dia cortou
os braços a sangue frio»


«Poema de Amor

Esta noite sonhei oferecer-te o anel de Saturno
e quase ia morrendo com o receio de que não
te coubesse no dedo»


«Levaram-no ao Serviço de Urgência. Perdera a fala
subitamente. O médico que o assistiu veio a apurar que
ligara as cordas vocais entre si para conseguir escapar
da sua prisão interior.»


«Lagoa Comprida

Sempre me intrigaram esses lagos de montanha alcan-
dorados nas nuvens. É como se fossem gigantescas taças
de orvalho que as montanhas erguessem para brindar
a cada novo dia.»


«Remos

Uma das coisas que aprendi muito cedo ainda foi a remar.
De modo a conjugar o som dos remos a cortarem a água
com o bater do meu coração.

Aprendi primeiro a remar contra a corrente. E agora
não sei - nem ouso - remar de outra maneira.»


«Vulcões

É cada vez mais reduzido o número de vulcões em acti-
vidade: o Stromboli, o Etna... Só de longe a longe nos
chegam ecos de uma súbita erupção.

Lentamente a terra vai perdendo a ilusão de que é uma
estrela!»

2 comentários:

  1. Oi, Inês!
    Gostei do seu comentário e da sinceridade. Poesia realmente é isso: sentir. E não devemos mesmo explicações porque sentimos ou não.
    Li uma citação que dizia: "Tanto na vida como na arte, muitas vezes é preciso escolher entre sentir e entender" Juanjo Sáez. Acho que é basicamente isso :)

    beijos,
    Pipa

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    Respostas
    1. Olá Pipa,
      É isso mesmo. Eu continuo a tentar, tirei o ano de 2013 para começar a aproximar-me da poesia. Tenho gostado muito, mas mais de uns poetas do que de outros :)

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